terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Final Alternativo 1

Ela sonhava comigo.
No sonho dela, eu estava caindo enquanto ela tentava se mover para me ajudar. Ela se sentia incapaz por não poder fazer nada. Ela tentava correr e agarrar meu braço mas não conseguia. Ficara desesperada e começara a suar. Quando eu, em seu sonho, finalmente caí no chão, ela acordou.
Ela deve ter percebido as sombras que passavam por seu rosto. As sombras das minhas asas contra as luzes da rua. Mas ela não via nada. Ela acendeu o abajur ao seu lado e pude ver a surpresa em seu rosto.
— Renan! — disse Andressa.
Um segundo depois ela corria para me abraçar.
Ela agora estava em meus braços. Eu não queria acreditar que nunca mais sentiria seu corpo no meu. Nunca mais sentiria seu toque em mim.
— Diz pra mim que foi um sonho, Renan. — ela soluçou. Ela estava chorando. — Diz que foi um sonho.
Ela me apalpava como que para me sentir, para ter certeza que eu estava ali. E eu estava mesmo ali, apesar de violar as Regras Divinas.
— Andressa... — eu disse e ela passou a me fitar ansiosa. — Precisamos conversar.
Ela assentiu mas continuou a me abraçar.
Peguei-a no colo e sentei-a na cama. Ela não soltaria minhas costas tão fácil. Para ela me soltar, eu deveria me chacoalhar ou tirá-la a força de mim. Eu não faria isso. Deitei-a na cama e deitei em cima dela. Seu rosto ficou a centímetros do meu. Eu queria beijá-la. Mas eu não podia. Não devia nem conseguiria. Não sentiria.
— O que está acontecendo, Renan?
Eu não queria falar nada. Eu queria ficar olhando para seu rosto.
Ela afrouxou o aperto em meu corpo e eu pude sentar na cama, de costas para ela. Como eu poderia explicar para ela?
— Andressa, o que você viu na noite de ontem? — ao dizer isto olhei para o relógio, eram 5:35hrs.
— Vi... — ela fazia um esforço imenso para lembrar. Para mim, era bom que ela não se lembrasse.
— Andressa. — Eu me preparava para dizer a próxima frase. — Eu estou morto.
Primeiro ela me olhou assustada; depois ela começou a rir. Ria histericamente. Abaixei em sua frente e agarrei sua mão. Ao fazer isso, pude rever tudo o que ocorrera na noite anterior. Thomáz, a facada, o incenso, Gabriel, minha morte... Andressa pôde ver também.
O riso se transformou em choro e agora Andressa chorava desesperadamente. Eu apenas segurei sua mão.
Ela se lembrou. Se lembrou de tudo o que ocorrera na noite anterior.
— Eu te matei... — ela soluçava.
— Não. Thomáz me matou.
Ela abaixou a cabeça e as lágrimas caíam incessantemente.
Quando ela menos esperava eu limpei suas lágrimas.
— Você não pode estar morto, Renan. Você está aqui. Não é mesmo?
Eu queria responder "Sim". as eu estaria mentindo. Optei por não responder e apenas contorcer meu rosto em piedade.
— Diga que sim, Renan! — era uma súplica.
— Andressa...
— Você vai me abandonar assim? Depois de tudo que passamos? VAI, RENAN? — ela gritou essa última frase.
Esperei ela se acalmar.
— Você pode acordar os outros. — disse a ela.
— Eu não me importo. Você está morto? — ela foi até a janela e a abriu e subiu no parapeito. — Eu vou com você, então. — Ela fechou os olhos e ia se jogar se eu não a tivesse segurado pela cintura.
Eu a abracei. Comprimi seu corpo contra o meu enquanto ela chorava.
Minha simples vontade fez a janela se fechar.
Sentei na cama mantendo Andressa em meu colo.
— Você está mesmo morto? — ela perguntou, ainda com o desespero, mas podia ver o conformismo.
Assenti com a cabeça.
— Você é... um Anjo?
Sorri. Tirei-a de meu colo e sentei-a na cama de novo.
— Andressa. Você não poderá mais me ver.
Eu esperava mais choro, mas Andressa era forte. Por mais que ela estivesse sofrendo, ela tentou manter a pose em minha frente.
— Para sempre?
— São as regras... as que eu tenho que cumprir. Não posso falar com você.
Ela abaixou a cabeça. Ergueu-a um segundo depois e as lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Para sempre?
Olhei-a por um tempo em silêncio, depois sorri.
— Para sempre é muito tempo!
Levantei-me e fui à janela. O vento aumentara, parecia que ia chover. Lá no fundo da paisagem, eu podia ver algo se formando, algo claro. O sol? Seria o sol nascendo? Olhei para o relógio, 5:56hrs. Acho que já estava na hora de ele nascer.
Tornei para Andressa.
— Há algo que quero que faça para mim, Andressa.
Ela estava com sono. A noite anterior fora terrível e ela precisava descansar.
Ela me olhava atentamente esperando eu dizer o que eu queria.
— Há uma mulher chamada Tânia. Tânia Correia Medeiros. Preciso que a ache. — olhei para ela para ver se ela desaprovava, mas ela continuava impassível. — Ela deve morar na capital de São Paulo agora. Eu preciso saber algumas coisas dela. Pode fazer isso para mim?
Quando menos percebi, os lábios de Andressa estavam juntos aos meus. Eu queria sentir aquilo pelo menos mais uma vez. Pelo menos mais uma vez sentir todo aquele poder que eu sentia quando estava junto de Andressa. Todas aquelas emoções. Tudo. E não saber que aquilo era apenas porque Andressa era minha fonte.
— Eu te amo, Renan. Farei qualquer coisa que quiser. Qualquer coisa.
Havia alguma sugestão naquela frase que eu não quis investigar na mente de Andressa.
Abracei-a mais uma vez, apertando-a contra meu peito, sem sentir nada, infelizmente.
— Eu te amo muito, Andressa. Muito, muito...
— Eu também, Renan... — ela começou a chorar de novo. — Por que? Por que a vida é assim? Por que logo quando eu o acho eu tenho que te deixar ir? Por que, Renan?
O choro dela agora se transformara em soluços que não se rompiam. Ela prosseguiu:
— Eu agradeci tanto a Deus por você ter aparecido na minha vida. Meu protetor. Meu Anjo. Depois que você apareceu, passei a rezar.
Ela parara de chorar e eu podia ver o sorriso nas palavras dela:
— Você me fez ter fé. Me fez crer nas coisas mais impossíveis de acontecer. Você é a coisa mais impossível que poderia ter acontecido em minha vida. Talvez eu é que tenha morrido ontem — ela começou a rir. Eu, apesar de estar sofrendo tudo que ela sentia naquele momento não pude deixar de rir também.
nós sabíamos que não ríamos do que ela havia dito agora a pouco. Ríamos de tudo, ríamos em despedida. Ríamos em tristeza. Ríamos pois era a melhor coisa fazer naquele momento.
Ela estava com muito sono, estava na hora de dizer adeus.
Ela fechou os olhos e me abraçou mais uma vez. Passou a mão pelas minhas costas.
— Onde elas ficam? — perguntou ela e eu sabia do que ela estava falando.
Coloquei a mão dela onde ficavam os imensos lençóis de penas grudados às minhas costas.
— Você não sentiria.
Eu não queria dizer "adeus".
— Renan — disse Andressa, — se eu rezar, vai me ouvir?
Eu não diria adeus!
— Sempre, minha linda.
Andressa adormeceu.
Coloquei-a na cama, deitada. Cobri-a e a beijei, embora não sentisse mais as correntes elétricas percorrendo meu corpo.
Agora seria tudo diferente. Tudo. Eu sentiria muita falta de Andressa.
Balancei a cabeça, quase me esqueci do que eu planejara.
Em breve nos veremos, nos falaremos... nos beijaremos de novo, Andressa!
Andei até a porta e saí rumo ao corredor.
Desci as escadas e percebi que não estava sozinho no cômodo. Havia alguém assistindo televisão. Desci mais uns degraus e percebi que era impossível alguém estar mesmo assistindo à tv, pois na tela, apenas um chiado constante. O sofá tornou-se visível e, sentada nele, Tabata olhava atenta para a tela.
Ela não deveria me ver. Na verdade, ela não conseguiria me ver.
Dei dois passos à frente e levei um susto com a voz arrastada e suave que dissera, cortando o silêncio:
— Ora, você ganhou a batalha...
Parei onde eu estava. A voz vinha de Tabata, mas não era sua voz. Ela se levantou e ficou um tempo parada, de costas para mim.
— Você é melhor do que eu imaginava — ela se virou e eu pude ver claramente que não era Tabata dentro daquele corpo. Seus olhos estavam totalmente brancos e sua voz, de repente, tornara-se um silvo que só poderia vir daquele que eu enfrentara noite passada. — Eu o subestimei, Renael.
— Não devia estar soterrado agora?
Tabata ergueu um canto de sua boca formando um meio-sorriso. Seu rosto estava sinistramente assustador.
— O humor... Ah, o humor! O sentimento que salva os seres humanos da desgraça interna.
O meio-sorriso dissipou-se.
— O que você quer, Thomáz?
O sorriso se abriu por completo.
— Achei que, para os Anjos, fosse Thomazrael — ele riu.
Ele andou para a esquerda e, apenas ao olhar para a televisão, ela desligou-se.
— Há mais mensagens ocultas nos meios de comunicações do que você imagina, Renael, cuidado.
Fuzilei-o com o olhar, inquirindo que ele dissesse o que estava fazendo na casa de Tabata. Na casa de Andressa.
— Eu vim lhe avisar que não acabou, Renael. Eu tenho um plano em mente...
— Um plano?
— Sim.
— E veio me contar sobre seu plano?
— Na verdade, trata-se de um jogo... uma aposta, quem sabe.
Ele estava brincando comigo, não era possível.
— Você quer apostar o quê, Thomáz? Nos deixe em paz! — virei as costas para ele e ia voltando para o quarto de Andressa. eu precisava protege-la daquele insano.
Thomáz riu. O corpo de Tabata riu.
— Eu não disse que você tinha opção.
Parei e virei meu rosto em sua direção.
— O que disse? — perguntei.
— Durante esses dois dias que estão por vir... você terá uma surpresa.
— Do que está falando? — eu avançava em sua direção.
— Alguém que eu não consegui levar está em jogo. Eu quero levar esse alguém. Eu sei que você é esperto o suficiente para imaginar do que eu estou falando, Renael.
Ele estava errado. Eu não fazia a mínima do que ele falava.
— Diga-me. O que quer dizer? — eu avancei mais um passo em sua direção.
— Eu mandarei notícias, Anjo-Rei. — Ele estalou os dedos e caiu de costas no sofá. Tabata despertou assustada.
Ela se levantou e procurou por seus óculos. Depois de um minuto de pânico, ela se recompôes e seguiu para seu quarto, resmungando "Tenho que parar de tomar nesquick à noite, está me fazendo mal!". Eu a segui, mas ia em direção ao quarto de Andressa. Ela virou na porta de seu quarto e a fechou. Eu abri a porta do quarto onde Andressa se encontrava, entrei e a fechei novamente.
O som de um trovão cortou o silêncio da madrugada. Já estava quase na hora do amanhecer, iria começar a chover agora?
Olhei para a janela, o vidro estava embaçado. Estranho!
Desembacei com a palma da mão e olhei lá fora. O que vi foi fantástico e assustador. Uma luz alaranjada, de aspecto assombroso.Aquela luz sugava tudo ao redor. Aquela luz queimava casas e prédios ao fundo. Aquela luz precedia um vendaval. O vento vinha furioso e violento, arrastando tudo. Uma tempestade.
O vidro embaçou de novo e dessa vez alguém limpou, mas não fui eu. No vidro embaçado surgiram as palavras:
VEM BRINCAR, RENAEL!

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