domingo, 18 de julho de 2010

Perguntas

A música começou a tocar.
 How do we get here... I think I know it so...
Eu fiquei imóvel esperando ouvir qualquer som no escuro.
Esperei por um longo minuto enquanto a música tocava, até que ouvi passos lentos se aproximando.
Eles passaram por mim e esse foi um momento muito tenso. Quase sou pisoteado. meu anjo da guarda deve ser O cara!
Ouvi os passos subirem degraus. Eu só tinha esse momento.
Me arrastei tomando o maior cuidado para não fazer barulho, o liquido abaixo de mim me dando agonia.
Os passos continuavam nos degraus.
Tateei à frente e achei algo físico. Parecia uma perna. Uma perna! apalpei mais acima – com medo do que iria encontrar. Era um corpo. Agora, de quem, eu não sei.
Me arrastei mais à frente e passei a mão nos cabelos da pessoa. Eram curtos, mais curtos do que o de Vitor. Devia ser André. E se ele estivesse morto?
O chão estava ensopado.
A música cessou com um Creck. Cara, eu paguei uma nota naquele celular. Tentei colocar na minha cabeça que aquilo valia a pena.
Dei tapas no rosto do homem deitado sussurrando "acorda!", mas nada.
Agora o silêncio inundava a casa. Eu só tinha uma questão em mente, como eu sairia de lá e sem fazer nenhum som?
Sentei-me e comecei a puxar o cara pelo braço. Era impossível não fazer som nenhum.
Girava o olhar à procura de algo visível, alguma saída.
Vi uma janela à esquerda e comecei a puxar o cara para lá.
Os passos estavam voltando. Parei e prendi a respiração.
Eles vinham numa cadencia lenta e pararam. Pareciam que estavam à minha frente, mas com a escuridão era difícil afirmar.
Um carro passou na rua e iluminou-a por um breve momento. Esse breve momento clareou a face daquele que estava postado em minha frente.
Bruno tentava ver ou ouvir quem estava lá dentro espionando-o.
Nenhum movimento. Ele estava parado à minha frente, como uma cobra esperando sua presa se mexer para dar o bote. Será que ele sabia que eu estava lá?
Ele não se movia e eu já ficava desesperado. Seus olhos totalmente negros. Bruno me assustava mais agora.
Ele se virou e eu até tomei um susto com isso. Saiu andando ainda com sua cadencia lenta. Esperei ele desaparecer pela escuridão até eu voltar a puxar o peso morto no chão.
Cheguei perto da janela. Lá estava mais iluminado, ainda que escuro. Postei o corpo lá e vi que André havia levado uma facada no tórax. 
Com toda a minha coragem, tirei aquela faca do tórax dele. Agora poderia me despedir da coragem.
Levantei-me e puxei André para postá-lo à janela. Coloquei-o no parapeito e o joguei lá fora. Espero que ele sobreviva.
Vi ele cair na grama, não machucaria se ele estivesse acordado – ou vivo.
Virei-me e apenas tive tempo suficiente para ver o rosto de quem me atiraria para a parede do outro lado da casa.
Bati minhas costas e cai no chão. Ele vinha andando para cima de mim. Sai correndo às cegas pela escuridão e dei de cara com alguém. Caí sentado no chão e Bruno me agarrou pelo cabelo e tacou minha cabeça no chão.
De repente a escuridão foi ficando mais profunda e nenhuma luz agora era visível. Eu apaguei.


Lentamente abri meus olhos.
A primeira vez que tentei quase fiquei cego. Estava tudo claro. Deveria ter amanhecida já.
Por quanto tempo eu apagara?
Onde eu estava? Tentava me lembrar como eu fora parar ali mas... era tudo um borrão negro.
Eu vira André, ele levara uma facada.
Tentei levantar mas percebi que estava preso à uma cadeira. Amarrado com uma corda.
Tentei me soltar mas foi inútil.
  – Pode tentar – disse uma voz conhecida. Virei a cabeça para a direita e vi Bruno postado a uma porta. – Você não vai conseguir.
Ele usava uma camiseta preta e calça Levy's. Seus cabelos estavam ensebados. Estavam mais negros do que nunca.
 – Por quê matou André? E Jonas? O que está acontecendo, Bruno? – perguntei.
Ele se aproximou lentamente. Eu encarava ele com minha melhor cara de mau.
  – O que está acontecendo aqui, Renan, é mais do que sua cabecinha pode suportar.
Ele se virou.
  – Se bem que... – continuou ele – se você for aquilo que me disseram...
Ele tornou o olhar à mim de novo. Estendeu a mão e abriu mostrando a palma para mim.
  – O que vê? – perguntou ele.
 – Como assim? – disse eu.
Ele franziu a testa. Tirou a camiseta e virou de costas para mim.
  – Vê alguma coisa?
 – Você é louco ou alguma coisa assim? – me lembrei de Gabriel, ele me fizera a mesma pergunta. Mas eu não entendia.
Ele se virou agora tinha um sorriso macabro no rosto.
  – Você não vê! – ele gritou depois deu uma risada. – Quer dizer que o grande Renael não pode nem ver as coisas de seu próprio mundo?
 – Do que está falando?
Ele riu novamente. Eu começava a ficar mais curioso com essa história. O que eu deveria ver nas costas desse maluco? Aliás, desses malucos.
 – Renan. meu nome é Renan.
 Tentei me soltar mais uma vez mas não consegui. Enquanto isso, Bruno se matava de rir.
  – Quer saber... – disse ele fechando seu sorriso – Vendo a situação, não vejo problema nenhum em deixar você ir. Até por que eu já tenho o que quero.
Ele saiu pela porta e a fechou.
Tentei de tudo para me soltar. Aos poucos, fui afrouxando a corda que me prendia.
Finalmente consegui me soltar e cair da cadeira. Minhas costas doíam. Eu, agora, mais do que nunca, precisava de Andressa. Ela era o meu ponto de paz, minha cura de todo o mal.
O que Bruno quis dizer com "Consegui o queria"?
Abri a porta devagar. Olhei ao redor, não via ninguém. Parecia que a casa estava vazia.
Desci as escadas e logo vi a sala por onde entrei. Não havia ninguém na casa.
Sai de lá e fui para o lado de fora daquela janela que eu havia jogado o André.
Ele não estava lá.
Andressa! Tabata! Tinha que ir para a casa de Tabata!
Saí correndo estrada a frente. Para onde Vitor e Bruno tinham ido? E André?


Estava de manhã.
Avistei a entrada de Tabata.
Eu estava correndo, então cheguei rápido à porta da casa.
Assim que entrei Andressa, Tabata e sua mãe soltaram um grito de susto.
Elas estavam postadas diante uma mesa branca.
  – Renan! – Andressa correu para me abraçar. Estendeu seus braços e me envolveu neles. Nesse momento eu senti todas as minhas dores se esvaírem de meu corpo. Ela me apertava e eu senti o calor de suas lágrimas em meu pescoço. Ela era maravilhosa.   O que aconteceu? Por onde andou?
   Eu tive uns problemas.
Não era bom contar à Andressa agora o que acontecera. Ela não precisava se assustar mais.
   O que vocês estão fazendo?
Olhei para toda aquelas coisas estranhas espalhadas: velas, copos, champanhe. Só podia ser coisa de Tabata.
    Estávamos tentando convocar o espírito com o qual falamos aquele dia   disse Tabata.   Você sabe, para conseguir mais respostas. Aproveitávamos que você não estava aqui para atrapalhar tudo.
Não sorri com a piada. Na verdade eu estava sem humor nenhum.
Encostei na parede próxima à mesa. Elas me olhavam
   Vão em frente.
    O que?   perguntou Tabata.
   Vão em frente, continuem o ritual.
Elas me olharam céticas. Não fui a favor da ultima vez, mas desta vez eu queria respostas.
    Tá o.k. Quero que todos se concentrem.   Tabata sempre ficava excitada com essas ocasiões.
Sentamos ao redor da mesa e demos as mãos. Fechamos os olhos e Tabata começou a cantar. Eu abri os olhos assustado.
   Que ela está fazendo?   sussurrei para Andressa.
    Silêncio   Tabata gritou interrompendo a cantoria.
Fechei os olhos de novo.
Tabata parou de cantar e o silêncio  se impregnou pela casa.
Tabata fazia um som estranho. Como um rosnar. Mas não era ela... Não era. Não era sua voz.
   Q-Quem está aí?   perguntei.
    Tem certeza que não sabe, Renael?
Estremeci. Caramba! por que me chamavam desse nome?
Tabata, ou quem estivesse  lá dentro dela, começou a rir
    Ah, Renael. Sempre atrás de respostas.
   Por que me chama assim?
    Ora, é seu nome. Renael, está na profecia, não?   Ele ou Ela soltou uma risada cortante e grave. Era a voz de Tabata misturada à de alguém.
   Quem é você?   perguntei novamente. Não estava nada confortável. A casa começava a ficar mais fria, congelante. O vento fazia um som agonizante.
Tabata riu mais uma vez e disse:
    Eu sou... 

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